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Aulas virtuais impõem aos professores uma maior carga de trabalho

12 Feb 2021

Há quase um ano a vida da professora Kalu Fernandes, da Rede Estadual de Ensino, mudou radicalmente. Mas não foi por acaso. A inesperada pandemia da Covid-19 impôs ao mundo o isolamento social como única forma de se proteger de um vírus invisível e com poder letal. Assim, a rotina de trabalho da profissional foi alterada, consequentemente afetando sua vida pessoal. “O trabalho virtual acaba por não permitir uma delimitação de horário para desempenho de função”, garante.

Kalu leciona sociologia no Instituto Padre Miguelinho, em Natal. Apesar das inúmeras dificuldades para dar aulas online, diz preferir continuar em casa, pois não se sente segura para voltar ao trabalho presencial sem a vacinação em massa: “As aulas virtuais não têm o mesmo alcance e efetividade que as presencias, isso é notório. No entanto, seria faltar com responsabilidade colocar tantos estudantes e profissionais de educação em risco de contaminação”, opina.

Nesta semana ela concedeu uma entrevista virtual ao SINTE/RN para contar um pouco do seu dia a dia. Confira abaixo o diálogo.

SINTE/RN: O que mudou na sua vida profissional após o início da pandemia?

Profª Kalu: Com o isolamento social causado pela pandemia de Covid-19, todas as áreas da minha vida ficaram restritas a um só tempo e espaço, a minha casa. Com isso, ser mãe, profissional de educação, dona de casa, estudante e mulher ocuparam o mesmo momento mudando toda a configuração social do trabalho.

SINTE/RN: Muitos professores têm relatado que a carga de trabalho aumentou com a adoção do ensino virtual imposto pelo distanciamento virtual. Isso acontece com você?

Profª Kalu: O trabalho virtual acaba por não permitir uma delimitação de horário para o desempenho de função. Gravar aulas, entender como utilizar o sistema (Sigeduc) e reorganizar todo o fazer pedagógico para aulas virtuais em meio a uma pandemia… da necropolitica do governo federal e diante dos problemas sociais que dificultam o acesso dos/das estudantes de escola pública é, por si só, um problema gigante para os educadores. A tentativa de tornar possível o ensino frente esse quadro estudando todas as alternativas para amenizar as dificuldades toma muito mais tempo do que as nossas horas semanais pagas, além de uma pressão psicológica gigante.

SINTE/RN: Como é sua rotina de trabalho na pandemia? Quantas horas destina ao preparo das aulas virtuais, ensino e atendimento online aos alunos?

Profª Kalu: Nas aulas presenciais temos a sala de aula e, no máximo, o prédio da instituição como local para aulas e tirar dúvidas dos/das estudantes. Com as aulas em ambiente virtual e a dificuldade de acesso ao Sigeduc, tanto pelos/pelas professoras/es quanto pelos/pelas estudantes, as aulas e tirar dúvidas invadem as redes sociais pessoais da gente. Pra criar alternativas de aulas eu, por exemplo, criei um canal no Telegram, o “Sociologia ao pé do Ouvido” onde dedico horas a mais para ler e comentar o livro de didático de Sociologia adotado pela escola onde trabalho. Os/as estudantes também me procuram para tirar dúvidas que vão desde como abrir um PDF a uma dúvida de conteúdo gastando muito tempo nisso, em média 4 horas semanais a mais.

SINTE/RN: Como foi sua adaptação ao ensino virtual? Recebeu algum tipo de ajuda ou treinamento?

Profª Kalu: Não tive nenhum treinamento capaz de sanar as necessidades que o ensino remoto trouxe. Acredito que minha adaptação ainda está em curso diante do tamanho da dificuldade do ensino remoto durante uma pandemia.

SINTE/RN: Quais são seus gastos para dar aulas em casa?

Profª Kalu: Aumentei a capacidade da internet, fiz um upgrade no PC, adquiri impressora, tripé, fone e microfone, quadro branco para as aulas. Todos esses itens foram pagos com recurso próprio.

SINTE/RN: Os alunos se adaptaram ao ensino à distância?

Profª Kalu: O acesso e realização das atividades propostas estão baixíssimas. A conjuntura social dos estudantes não ajuda e torna a adaptação muito difícil para todos/as.

SINTE/RN: Apesar das dificuldades, você se sentiria segura para voltar ao trabalho presencial?

Profª Kalu: Não. Precisamos do mínimo de segurança para voltar as aulas presenciais. As aulas virtuais não têm o mesmo alcance e efetividade que as presencias, isso é notório. No entanto, seria faltar com responsabilidade colocar tantos estudantes e profissionais de educação em risco de contaminação.

SINTE/RN: Avalia que a sua escola e as demais têm condições de receber professores, funcionários e estudantes antes da vacinação em massa?

Profª Kalu: A vacinação é a medida que pode garantir o retorno das aulas por dar segurança sanitária a todos/todas. Sem vacinação não tem como retornar às aulas.

SINTE/RN: Na sua opinião a educação deve ou não ser incluída no grupo prioritário para receber a vacina contra a Covid-19?

Profª Kalu: Com certeza. É uma questão social garantir o retorno seguro dos estudantes às aulas presenciais. São muitos estudantes que necessitam estar em sala de aula e é necessário que o governo garanta para os profissionais da educação prioridade na vacinação contra a Covid 19.

Educação

Aulas virtuais impõem aos professores uma maior carga de trabalho

12 Feb 2021

Há quase um ano a vida da professora Kalu Fernandes, da Rede Estadual de Ensino, mudou radicalmente. Mas não foi por acaso. A inesperada pandemia da Covid-19 impôs ao mundo o isolamento social como única forma de se proteger de um vírus invisível e com poder letal. Assim, a rotina de trabalho da profissional foi alterada, consequentemente afetando sua vida pessoal. “O trabalho virtual acaba por não permitir uma delimitação de horário para desempenho de função”, garante.

Kalu leciona sociologia no Instituto Padre Miguelinho, em Natal. Apesar das inúmeras dificuldades para dar aulas online, diz preferir continuar em casa, pois não se sente segura para voltar ao trabalho presencial sem a vacinação em massa: “As aulas virtuais não têm o mesmo alcance e efetividade que as presencias, isso é notório. No entanto, seria faltar com responsabilidade colocar tantos estudantes e profissionais de educação em risco de contaminação”, opina.

Nesta semana ela concedeu uma entrevista virtual ao SINTE/RN para contar um pouco do seu dia a dia. Confira abaixo o diálogo.

SINTE/RN: O que mudou na sua vida profissional após o início da pandemia?

Profª Kalu: Com o isolamento social causado pela pandemia de Covid-19, todas as áreas da minha vida ficaram restritas a um só tempo e espaço, a minha casa. Com isso, ser mãe, profissional de educação, dona de casa, estudante e mulher ocuparam o mesmo momento mudando toda a configuração social do trabalho.

SINTE/RN: Muitos professores têm relatado que a carga de trabalho aumentou com a adoção do ensino virtual imposto pelo distanciamento virtual. Isso acontece com você?

Profª Kalu: O trabalho virtual acaba por não permitir uma delimitação de horário para o desempenho de função. Gravar aulas, entender como utilizar o sistema (Sigeduc) e reorganizar todo o fazer pedagógico para aulas virtuais em meio a uma pandemia… da necropolitica do governo federal e diante dos problemas sociais que dificultam o acesso dos/das estudantes de escola pública é, por si só, um problema gigante para os educadores. A tentativa de tornar possível o ensino frente esse quadro estudando todas as alternativas para amenizar as dificuldades toma muito mais tempo do que as nossas horas semanais pagas, além de uma pressão psicológica gigante.

SINTE/RN: Como é sua rotina de trabalho na pandemia? Quantas horas destina ao preparo das aulas virtuais, ensino e atendimento online aos alunos?

Profª Kalu: Nas aulas presenciais temos a sala de aula e, no máximo, o prédio da instituição como local para aulas e tirar dúvidas dos/das estudantes. Com as aulas em ambiente virtual e a dificuldade de acesso ao Sigeduc, tanto pelos/pelas professoras/es quanto pelos/pelas estudantes, as aulas e tirar dúvidas invadem as redes sociais pessoais da gente. Pra criar alternativas de aulas eu, por exemplo, criei um canal no Telegram, o “Sociologia ao pé do Ouvido” onde dedico horas a mais para ler e comentar o livro de didático de Sociologia adotado pela escola onde trabalho. Os/as estudantes também me procuram para tirar dúvidas que vão desde como abrir um PDF a uma dúvida de conteúdo gastando muito tempo nisso, em média 4 horas semanais a mais.

SINTE/RN: Como foi sua adaptação ao ensino virtual? Recebeu algum tipo de ajuda ou treinamento?

Profª Kalu: Não tive nenhum treinamento capaz de sanar as necessidades que o ensino remoto trouxe. Acredito que minha adaptação ainda está em curso diante do tamanho da dificuldade do ensino remoto durante uma pandemia.

SINTE/RN: Quais são seus gastos para dar aulas em casa?

Profª Kalu: Aumentei a capacidade da internet, fiz um upgrade no PC, adquiri impressora, tripé, fone e microfone, quadro branco para as aulas. Todos esses itens foram pagos com recurso próprio.

SINTE/RN: Os alunos se adaptaram ao ensino à distância?

Profª Kalu: O acesso e realização das atividades propostas estão baixíssimas. A conjuntura social dos estudantes não ajuda e torna a adaptação muito difícil para todos/as.

SINTE/RN: Apesar das dificuldades, você se sentiria segura para voltar ao trabalho presencial?

Profª Kalu: Não. Precisamos do mínimo de segurança para voltar as aulas presenciais. As aulas virtuais não têm o mesmo alcance e efetividade que as presencias, isso é notório. No entanto, seria faltar com responsabilidade colocar tantos estudantes e profissionais de educação em risco de contaminação.

SINTE/RN: Avalia que a sua escola e as demais têm condições de receber professores, funcionários e estudantes antes da vacinação em massa?

Profª Kalu: A vacinação é a medida que pode garantir o retorno das aulas por dar segurança sanitária a todos/todas. Sem vacinação não tem como retornar às aulas.

SINTE/RN: Na sua opinião a educação deve ou não ser incluída no grupo prioritário para receber a vacina contra a Covid-19?

Profª Kalu: Com certeza. É uma questão social garantir o retorno seguro dos estudantes às aulas presenciais. São muitos estudantes que necessitam estar em sala de aula e é necessário que o governo garanta para os profissionais da educação prioridade na vacinação contra a Covid 19.

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