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Educação

Desde 2020 trabalhando remotamente, professores relatam carga horária elevada e desejam vacinação imediata

26 May 2021

Há quase 15 meses a vida dos professores de todo o planeta mudou radicalmente. Em março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a pandemia da Covid-19, uma nova doença que trazia muitas perguntas e a recomendação de se afastar socialmente a fim de evitar o contágio. Foi neste momento de incertezas que os gestores corretamente decidiram fechar as escolas. No Brasil não foi diferente. A única saída para dar continuidade ao ensino seria adotar o trabalho remoto. Assim, rapidamente professores precisaram se adaptar. E não foi fácil aprender a lecionar à distância utilizando plataformas até então desconhecidas por muitos e sem qualquer ajuda das secretarias de educação. Logo as dificuldades apareceram.

Essa brusca mudança tornou a rotina exaustiva, uma vez que o trabalho passou a não ter hora para terminar. Para piorar, o ensino virtual se mostrou possível apenas se os profissionais tirassem dinheiro do próprio salário para custear a internet que utilizam, fazer a manutenção ou comprar os dispositivos necessários. Essa sobrecarga de trabalho gerou preocupações excessivas, problemas de saúde e chegou a afetar o convívio familiar. Além disso, a pressão exercida por parte da sociedade pela volta presencial tornou tudo ainda pior.

Rogério Câmara é um exemplo disso. Professor de física da Rede Estadual, acumula o trabalho nas escolas Edgar Barbosa, Nestor Lima, Soldado Luiz Gonzaga, Mascarenhas Homem e Zila Mamede, onde é responsável por 20 turmas, totalizando cerca de 400 estudantes. Diz que sua rotina foi drasticamente alterada após a chegada do novo coronavírus. Relata estar trabalhando mais de 8 horas todos os dias. Mesmo assim não vem conseguindo dar conta da demanda: “Ao acordar, verifico os grupos de WhatsApp das cinco escolas, das 20 turmas, dos coordenadores, diretores e alunos. Aí pontuo as demandas, que são muitas. Por volta das 8 horas vou para o notebook e só saio ao meio-dia para almoçar. Retorno às 14h e fico mais quatro horas conectado, trabalhando. Após dar uma pausa de uma hora, retomo minhas tarefas às 19h, depois do jantar. Aí fico no notebook até ficar sem condições de ver”.

Perguntado como as aulas virtuais alteraram sua vida pessoal, afirma: “Não tenho mais tempo para estudar, pesquisar e ler. Tenho pouco tempo para dar atenção aos meus familiares, atuar na rotina doméstica, fazer atividades físicas. Inclusive venho sentido dores nas articulações e meu problema de visão foi agravado. Sem falar nas preocupações, que são muitas”.

Apesar das inúmeras dificuldades, diz preferir continuar trabalhando em casa, pois não se sente seguro para voltar ao trabalho presencial sem a vacinação em massa: “As aulas virtuais não têm o mesmo alcance e efetividade que as presencias, isso é notório. No entanto, seria faltar com responsabilidade colocar tantos estudantes e profissionais de educação em risco de contaminação”, opina.

A professora Kalu Fernandes é outra personagem desta novela da vida real. Ela leciona a disciplina de sociologia no Instituto Padre Miguelinho, em Natal, e relata que o ensino remoto significa trabalhar indefinidamente: “O trabalho virtual acaba por não permitir uma delimitação de horário para desempenho de função”, garante. Tanto que chegou a adoecer no final do ano passado: “Eu comecei a ouvir um zumbido no ouvido, não conseguia mais ler direito porque meus olhos estavam embaçados, ressecados, sentia tonturas, falta de concentração e dificuldade para dormir. Depois descobri que tudo isso era resultado do tempo de tela que a gente passa”.

Kalu afirma não ter tido qualquer treinamento para ensinar remotamente: “Acredito que minha adaptação ainda está em curso diante do tamanho da dificuldade do ensino remoto durante uma pandemia”. Ainda diz que precisou tirar dinheiro do bolso para trabalhar: “Aumentei a capacidade da internet, fiz um upgrade no PC, adquiri impressora, tripé, fone e microfone, quadro branco para as aulas. Todos esses itens foram pagos com recurso próprio”.

O professor Jaciane Anízio, que trabalha com educação especial na Escola Eliseu Viana, em Mossoró, também deu seu testemunho. É outro profissional que diz preferir o trabalho presencial, mas desde que feito com segurança. “Não me sinto seguro (para voltar agora) porque a gente percebe a cada dia que os indicadores não têm mostrado uma segurança suficiente para que a gente possa ter uma segurança no retorno. O único caminho possível é a vacinação”.

Questionado acerca da sobrecarga, diz que costumeiramente passa por processos intensos de formações somados ao horário de trabalho, preparo das aulas e atendimento aos alunos. Isso resulta em trabalho fora do expediente e até em finais de semana.

VACINAÇÃO

Além da rotina exaustiva, os três professores que conversaram conosco têm em comum o desejo de voltar ao trabalho presencial, mas com segurança. Por isso, cobram a vacinação imediata. O início da imunização dos profissionais da educação do RN estava previsto para 24 de maio (última segunda-feira), mas foi suspenso. Isto porque o Governo do Estado foi notificado em 22/05 de uma decisão judicial que proíbe qualquer gestor, seja estadual ou municipal, de seguir uma agenda de imunização para além daquela preconizada no plano nacional de operacionalização da vacinação contra a Covid.

A decisão foi publicada em 1º de abril em resposta a uma ação civil pública impetrada pelo Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública do Estado. Desse modo, para que a vacinação dos trabalhadores em educação se torne realidade no RN, é preciso haver a reversão dessa decisão judicial ou uma outra decisão do plano nacional de operacionalização, segundo apontou o secretário de saúde estadual, Cipriano Maia.

Por isso, diante do atual impasse, os professores continuarão trabalhando remotamente e esperançosos que em breve poderão voltar a trabalhar e viver normalmente.

SINTE/RN LANÇOU CAMPANHA DE RECONHECIMENTO DO TRABALHO REMOTO

Mostrar a sociedade potiguar a rotina do professor em trabalho remoto. Foi com este objetivo que o SINTE/RN lançou em 18 de maio a campanha de reconhecimento do trabalho docente dos trabalhadores em educação do Rio Grande do Norte. Assim, 21 de maio foi escolhido como dia “D” da campanha, onde professores fizeram fotos e vídeos retratando momentos e situações vividas no trabalho remoto, publicando e marcando os perfis do SINTE no Instagram e Facebook. O material foi replicado pela entidade.

O material enviado comprova que os educadores precisaram adaptar o ambiente doméstico, ajustar a metodologia, atender aos estudantes e seus responsáveis, gravar e ministrar aulas, entre outras coisas. E tudo isso a partir da aquisição de equipamentos para uso profissional com recursos próprios.

A campanha também contou com um tema exclusivo no Facebook que ainda pode ser aplicado nas fotos de perfil dos professores. Sobre isso, os que quiserem adotar o tema devem acessar seu perfil no Facebook, clicar em “Editar” na foto de perfil e em “Adicionar tema”. Chegando aí, basta digitar “Trabalho remoto SINTE/RN” e salvar o tema.

Educação

Desde 2020 trabalhando remotamente, professores relatam carga horária elevada e desejam vacinação imediata

26 May 2021

Há quase 15 meses a vida dos professores de todo o planeta mudou radicalmente. Em março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a pandemia da Covid-19, uma nova doença que trazia muitas perguntas e a recomendação de se afastar socialmente a fim de evitar o contágio. Foi neste momento de incertezas que os gestores corretamente decidiram fechar as escolas. No Brasil não foi diferente. A única saída para dar continuidade ao ensino seria adotar o trabalho remoto. Assim, rapidamente professores precisaram se adaptar. E não foi fácil aprender a lecionar à distância utilizando plataformas até então desconhecidas por muitos e sem qualquer ajuda das secretarias de educação. Logo as dificuldades apareceram.

Essa brusca mudança tornou a rotina exaustiva, uma vez que o trabalho passou a não ter hora para terminar. Para piorar, o ensino virtual se mostrou possível apenas se os profissionais tirassem dinheiro do próprio salário para custear a internet que utilizam, fazer a manutenção ou comprar os dispositivos necessários. Essa sobrecarga de trabalho gerou preocupações excessivas, problemas de saúde e chegou a afetar o convívio familiar. Além disso, a pressão exercida por parte da sociedade pela volta presencial tornou tudo ainda pior.

Rogério Câmara é um exemplo disso. Professor de física da Rede Estadual, acumula o trabalho nas escolas Edgar Barbosa, Nestor Lima, Soldado Luiz Gonzaga, Mascarenhas Homem e Zila Mamede, onde é responsável por 20 turmas, totalizando cerca de 400 estudantes. Diz que sua rotina foi drasticamente alterada após a chegada do novo coronavírus. Relata estar trabalhando mais de 8 horas todos os dias. Mesmo assim não vem conseguindo dar conta da demanda: “Ao acordar, verifico os grupos de WhatsApp das cinco escolas, das 20 turmas, dos coordenadores, diretores e alunos. Aí pontuo as demandas, que são muitas. Por volta das 8 horas vou para o notebook e só saio ao meio-dia para almoçar. Retorno às 14h e fico mais quatro horas conectado, trabalhando. Após dar uma pausa de uma hora, retomo minhas tarefas às 19h, depois do jantar. Aí fico no notebook até ficar sem condições de ver”.

Perguntado como as aulas virtuais alteraram sua vida pessoal, afirma: “Não tenho mais tempo para estudar, pesquisar e ler. Tenho pouco tempo para dar atenção aos meus familiares, atuar na rotina doméstica, fazer atividades físicas. Inclusive venho sentido dores nas articulações e meu problema de visão foi agravado. Sem falar nas preocupações, que são muitas”.

Apesar das inúmeras dificuldades, diz preferir continuar trabalhando em casa, pois não se sente seguro para voltar ao trabalho presencial sem a vacinação em massa: “As aulas virtuais não têm o mesmo alcance e efetividade que as presencias, isso é notório. No entanto, seria faltar com responsabilidade colocar tantos estudantes e profissionais de educação em risco de contaminação”, opina.

A professora Kalu Fernandes é outra personagem desta novela da vida real. Ela leciona a disciplina de sociologia no Instituto Padre Miguelinho, em Natal, e relata que o ensino remoto significa trabalhar indefinidamente: “O trabalho virtual acaba por não permitir uma delimitação de horário para desempenho de função”, garante. Tanto que chegou a adoecer no final do ano passado: “Eu comecei a ouvir um zumbido no ouvido, não conseguia mais ler direito porque meus olhos estavam embaçados, ressecados, sentia tonturas, falta de concentração e dificuldade para dormir. Depois descobri que tudo isso era resultado do tempo de tela que a gente passa”.

Kalu afirma não ter tido qualquer treinamento para ensinar remotamente: “Acredito que minha adaptação ainda está em curso diante do tamanho da dificuldade do ensino remoto durante uma pandemia”. Ainda diz que precisou tirar dinheiro do bolso para trabalhar: “Aumentei a capacidade da internet, fiz um upgrade no PC, adquiri impressora, tripé, fone e microfone, quadro branco para as aulas. Todos esses itens foram pagos com recurso próprio”.

O professor Jaciane Anízio, que trabalha com educação especial na Escola Eliseu Viana, em Mossoró, também deu seu testemunho. É outro profissional que diz preferir o trabalho presencial, mas desde que feito com segurança. “Não me sinto seguro (para voltar agora) porque a gente percebe a cada dia que os indicadores não têm mostrado uma segurança suficiente para que a gente possa ter uma segurança no retorno. O único caminho possível é a vacinação”.

Questionado acerca da sobrecarga, diz que costumeiramente passa por processos intensos de formações somados ao horário de trabalho, preparo das aulas e atendimento aos alunos. Isso resulta em trabalho fora do expediente e até em finais de semana.

VACINAÇÃO

Além da rotina exaustiva, os três professores que conversaram conosco têm em comum o desejo de voltar ao trabalho presencial, mas com segurança. Por isso, cobram a vacinação imediata. O início da imunização dos profissionais da educação do RN estava previsto para 24 de maio (última segunda-feira), mas foi suspenso. Isto porque o Governo do Estado foi notificado em 22/05 de uma decisão judicial que proíbe qualquer gestor, seja estadual ou municipal, de seguir uma agenda de imunização para além daquela preconizada no plano nacional de operacionalização da vacinação contra a Covid.

A decisão foi publicada em 1º de abril em resposta a uma ação civil pública impetrada pelo Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública do Estado. Desse modo, para que a vacinação dos trabalhadores em educação se torne realidade no RN, é preciso haver a reversão dessa decisão judicial ou uma outra decisão do plano nacional de operacionalização, segundo apontou o secretário de saúde estadual, Cipriano Maia.

Por isso, diante do atual impasse, os professores continuarão trabalhando remotamente e esperançosos que em breve poderão voltar a trabalhar e viver normalmente.

SINTE/RN LANÇOU CAMPANHA DE RECONHECIMENTO DO TRABALHO REMOTO

Mostrar a sociedade potiguar a rotina do professor em trabalho remoto. Foi com este objetivo que o SINTE/RN lançou em 18 de maio a campanha de reconhecimento do trabalho docente dos trabalhadores em educação do Rio Grande do Norte. Assim, 21 de maio foi escolhido como dia “D” da campanha, onde professores fizeram fotos e vídeos retratando momentos e situações vividas no trabalho remoto, publicando e marcando os perfis do SINTE no Instagram e Facebook. O material foi replicado pela entidade.

O material enviado comprova que os educadores precisaram adaptar o ambiente doméstico, ajustar a metodologia, atender aos estudantes e seus responsáveis, gravar e ministrar aulas, entre outras coisas. E tudo isso a partir da aquisição de equipamentos para uso profissional com recursos próprios.

A campanha também contou com um tema exclusivo no Facebook que ainda pode ser aplicado nas fotos de perfil dos professores. Sobre isso, os que quiserem adotar o tema devem acessar seu perfil no Facebook, clicar em “Editar” na foto de perfil e em “Adicionar tema”. Chegando aí, basta digitar “Trabalho remoto SINTE/RN” e salvar o tema.

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