Para Refletir

Cadáver

20 Aug 2014

A imprensa anuncia: Governo não vai antecipar o pagamento do décimo terceiro salário. Na casa da professora, a notícia cai como uma bomba de efeito paralisante. A doença repentina do pai consumira as parcas reservas, o cheque especial há muito se esgotara. A família havia recorrido a um empréstimo emergencial.

“Não tem problema, com a antecipação do décimo terceiro a gente paga”. Pensavam. “E agora? Agora, é ver se tem alguém por nós…” O Sindicato foi a primeira esperança. Afinal não é pra isso que serve? Tem que cumprir o seu papel.

Mas a resposta foi decepcionante. A Lei não obriga o governo a antecipar o décimo terceiro. Mas como? Há anos não era assim? Se não pode ser na Lei, vamos denunciar! O Sindicato já havia denunciado. Aliás, a imprensa toda já divulgou e o Governo nem aí. Fez mais, pressionou diretamente na Secretaria. Enviou Ofício exigindo explicações. Todos os esforços, todas as ações que cabiam foram realizadas sem qualquer resposta positiva.

A família se resignou. Renegociou a dívida pagando mais juros. Assumiu mais um prejuízo causado pela falta de competência administrativa do Governo.

À noite, a professora teve um pesadelo. Sonhou com um cadáver que se recusava a ser enterrado. Ficava lá assombrando, apenas fazendo mal. Tentavam de tudo para combate-lo. Em vão. Pessoas se reuniram para combate-lo, mas ele não tinha olhos para ver ou ouvidos para ouvir, nem mesmo um coração para sentir. Alguns xingaram e até mesmo pensaram em bater, mas logo desistiram, afinal cadáveres são obviamente insensíveis. Nem mesmo a Justiça podia atingi-lo já que só funciona para os vivos.

A professora acordou molhada de suor. Tinha sonhado com o Governo Rosalba. A aula, naquele dia, foi sobre como votar consciente…

Cadáver

20 Aug 2014

A imprensa anuncia: Governo não vai antecipar o pagamento do décimo terceiro salário. Na casa da professora, a notícia cai como uma bomba de efeito paralisante. A doença repentina do pai consumira as parcas reservas, o cheque especial há muito se esgotara. A família havia recorrido a um empréstimo emergencial.

“Não tem problema, com a antecipação do décimo terceiro a gente paga”. Pensavam. “E agora? Agora, é ver se tem alguém por nós…” O Sindicato foi a primeira esperança. Afinal não é pra isso que serve? Tem que cumprir o seu papel.

Mas a resposta foi decepcionante. A Lei não obriga o governo a antecipar o décimo terceiro. Mas como? Há anos não era assim? Se não pode ser na Lei, vamos denunciar! O Sindicato já havia denunciado. Aliás, a imprensa toda já divulgou e o Governo nem aí. Fez mais, pressionou diretamente na Secretaria. Enviou Ofício exigindo explicações. Todos os esforços, todas as ações que cabiam foram realizadas sem qualquer resposta positiva.

A família se resignou. Renegociou a dívida pagando mais juros. Assumiu mais um prejuízo causado pela falta de competência administrativa do Governo.

À noite, a professora teve um pesadelo. Sonhou com um cadáver que se recusava a ser enterrado. Ficava lá assombrando, apenas fazendo mal. Tentavam de tudo para combate-lo. Em vão. Pessoas se reuniram para combate-lo, mas ele não tinha olhos para ver ou ouvidos para ouvir, nem mesmo um coração para sentir. Alguns xingaram e até mesmo pensaram em bater, mas logo desistiram, afinal cadáveres são obviamente insensíveis. Nem mesmo a Justiça podia atingi-lo já que só funciona para os vivos.

A professora acordou molhada de suor. Tinha sonhado com o Governo Rosalba. A aula, naquele dia, foi sobre como votar consciente…

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