Por Leilton Lima
O filósofo Platão entendia que amor era sinônimo de desejo e desejo era o mesmo que ausência, aquilo que nos falta. O deus que representava essa concepção era Eros. Eros nos leva a querer aquilo que não temos. Buscar o que não possuímos.
O problema é que quando conquistamos o objeto do nosso desejo, ele deixa de ser desejado, afinal ninguém almeja aquilo que já possui. E se amor é falta e se aquilo já não nos falta, então não existe mais amor.
Essa é a origem do conceito de amor “platônico”. Algo que só existe no mundo das ideias e jamais poderá ser vivenciado na vida real. As pessoas amam apaixonadamente aquilo que não possuem e quando possuem buscam novos amores.
Você pode estar pensando na influência do deus Eros nas relações afetivo-sexuais entre as pessoas. Mas o erotismo vai bem mais além. A economia de mercado aproveitou muito bem essa característica humana estimulando o consumo enquanto modo de vida. Trata-se de uma espécie de culto religioso no qual Eros é um deus supremo que nos comanda sem alardes.
Quando você deseja o lançamento daquele produto eletrônico, a roupa de marca, ou baba discretamente ao ver passar o carro dos seus sonhos, você está erotizado. Em uma palestra na qual aborda os vários conceitos de amor, o professor de ética Clóvis de Barros Filho, cita o exemplo de uma criança que passa o ano sonhando apaixonada pelo brinquedo, o abandona poucos dias depois da conquista e passa a viver apaixonada pelo próximo lançamento. Ampliando a questão para a economia mundial, temos o deus do desejo como comandante supremo.
Não é racional negar que a dinâmica da inquietação impulsiona o ser para o progresso. Se nos satisfizéssemos com o que temos estaríamos fadados à paralisia evolutiva. A busca constante pelo novo através do estímulo a querer sempre mais é um dos trunfos do sistema Capitalista.
No entanto, essa aparente virtude tem cobrado o seu preço: o vazio existencial. O amor por aquilo que ainda não temos, provoca o enfado por aquilo que temos. O sistema de consumo nos empurra cada vez mais para adquirir coisas e isso se amplia a tal ponto que, no final, as próprias pessoas são coisificadas. É a economia erótica, na qual o vazio do “não ter” cresce à medida que possuímos sempre mais.
E a sociedade caminha sob a angústia asfixiante da eterna falta. Seus indivíduos precisam comprar, possuir objetos, e uns aos outros, para experimentarem o alívio efêmero da realização do ter. O resultado é uma sociedade de valores distorcidos onde vale mais a competição do que a colaboração e na qual os casos de depressão superam o câncer e AIDS juntos.
Mas existe saída? Sim! E tudo começa com a percepção de que o encontro em si é mais importante do que o desejo de encontrar. É a visão de amor apresentada pelo filósofo Aristóteles. Para ele, amor não era Eros e sim Philia que por sua vez é a presença, o encontro. É amor pelo mundo, quando o mundo faz bem. Não é desejo é alegria! E alegria, é o ganho de potência, de energia de vida diante daquilo que já nos pertence. Quem está alegre, tem força transformadora produtiva.
Observar o que já conquistamos, o que transformamos, o patamar alcançado e saborear essas vitórias é fundamental para sairmos do erotismo patológico da sociedade de consumo. É encontrar graça naquilo que não tem preço. E encontrar graça é ser grato, saber agradecer. A economia erótica é naturalmente ingrata porque não estimula a alegria naquilo que se possui. Já a economia da alegria é cheia de gratidão e festa por tudo aquilo que já nos proporciona bem-estar.
Viver o amor aristotélico nas nossas relações de consumo já seria um grande passo para uma sociedade mais saudável e menos violenta. Mas para que limitar a vida dentro das margens da posse ou não posse, da presença ou ausência? podemos almejar mais ainda. E para isso podemos, embebidos na alegria do ter, imaginarmos a prática do amor proposta pelo filósofo Jesus de Nazaré.
Para Jesus, o amor é Ágape, no qual o que importa é a alegria do ser amado e se ama a tudo e todos sem condições e limites. Segundo, o professor Clóvis de Barros Filho, Ágape não é desejo porque não se deseja a tudo e todos e não é alegria por que ninguém se alegra com tudo e todos.
Em Ágape, o afeto é dirigido para o outro, mesmo que isso ameace o próprio bem-estar. É o amor experimentado pelos pais em relação aos filhos, por exemplo. Esse amor, não se aplica diretamente às coisas porque Ágape não tem intenção de possuir e sim de doar incondicionalmente. Mas por isso mesmo é libertador.
Vivido socialmente Ágape nos tiraria da atual condição de seres possuídos pelas coisas e nos permitiria assumir a posse delas, já que o foco passaria a ser as relações com o próximo e não mais o acúmulo de bens. Rasgando o véu da angústia da economia erótica, acessaremos a alegria do encontro com o próximo e com o mundo e, assim, pavimentaremos a presença em nós.
Por Leilton Lima
O filósofo Platão entendia que amor era sinônimo de desejo e desejo era o mesmo que ausência, aquilo que nos falta. O deus que representava essa concepção era Eros. Eros nos leva a querer aquilo que não temos. Buscar o que não possuímos.
O problema é que quando conquistamos o objeto do nosso desejo, ele deixa de ser desejado, afinal ninguém almeja aquilo que já possui. E se amor é falta e se aquilo já não nos falta, então não existe mais amor.
Essa é a origem do conceito de amor “platônico”. Algo que só existe no mundo das ideias e jamais poderá ser vivenciado na vida real. As pessoas amam apaixonadamente aquilo que não possuem e quando possuem buscam novos amores.
Você pode estar pensando na influência do deus Eros nas relações afetivo-sexuais entre as pessoas. Mas o erotismo vai bem mais além. A economia de mercado aproveitou muito bem essa característica humana estimulando o consumo enquanto modo de vida. Trata-se de uma espécie de culto religioso no qual Eros é um deus supremo que nos comanda sem alardes.
Quando você deseja o lançamento daquele produto eletrônico, a roupa de marca, ou baba discretamente ao ver passar o carro dos seus sonhos, você está erotizado. Em uma palestra na qual aborda os vários conceitos de amor, o professor de ética Clóvis de Barros Filho, cita o exemplo de uma criança que passa o ano sonhando apaixonada pelo brinquedo, o abandona poucos dias depois da conquista e passa a viver apaixonada pelo próximo lançamento. Ampliando a questão para a economia mundial, temos o deus do desejo como comandante supremo.
Não é racional negar que a dinâmica da inquietação impulsiona o ser para o progresso. Se nos satisfizéssemos com o que temos estaríamos fadados à paralisia evolutiva. A busca constante pelo novo através do estímulo a querer sempre mais é um dos trunfos do sistema Capitalista.
No entanto, essa aparente virtude tem cobrado o seu preço: o vazio existencial. O amor por aquilo que ainda não temos, provoca o enfado por aquilo que temos. O sistema de consumo nos empurra cada vez mais para adquirir coisas e isso se amplia a tal ponto que, no final, as próprias pessoas são coisificadas. É a economia erótica, na qual o vazio do “não ter” cresce à medida que possuímos sempre mais.
E a sociedade caminha sob a angústia asfixiante da eterna falta. Seus indivíduos precisam comprar, possuir objetos, e uns aos outros, para experimentarem o alívio efêmero da realização do ter. O resultado é uma sociedade de valores distorcidos onde vale mais a competição do que a colaboração e na qual os casos de depressão superam o câncer e AIDS juntos.
Mas existe saída? Sim! E tudo começa com a percepção de que o encontro em si é mais importante do que o desejo de encontrar. É a visão de amor apresentada pelo filósofo Aristóteles. Para ele, amor não era Eros e sim Philia que por sua vez é a presença, o encontro. É amor pelo mundo, quando o mundo faz bem. Não é desejo é alegria! E alegria, é o ganho de potência, de energia de vida diante daquilo que já nos pertence. Quem está alegre, tem força transformadora produtiva.
Observar o que já conquistamos, o que transformamos, o patamar alcançado e saborear essas vitórias é fundamental para sairmos do erotismo patológico da sociedade de consumo. É encontrar graça naquilo que não tem preço. E encontrar graça é ser grato, saber agradecer. A economia erótica é naturalmente ingrata porque não estimula a alegria naquilo que se possui. Já a economia da alegria é cheia de gratidão e festa por tudo aquilo que já nos proporciona bem-estar.
Viver o amor aristotélico nas nossas relações de consumo já seria um grande passo para uma sociedade mais saudável e menos violenta. Mas para que limitar a vida dentro das margens da posse ou não posse, da presença ou ausência? podemos almejar mais ainda. E para isso podemos, embebidos na alegria do ter, imaginarmos a prática do amor proposta pelo filósofo Jesus de Nazaré.
Para Jesus, o amor é Ágape, no qual o que importa é a alegria do ser amado e se ama a tudo e todos sem condições e limites. Segundo, o professor Clóvis de Barros Filho, Ágape não é desejo porque não se deseja a tudo e todos e não é alegria por que ninguém se alegra com tudo e todos.
Em Ágape, o afeto é dirigido para o outro, mesmo que isso ameace o próprio bem-estar. É o amor experimentado pelos pais em relação aos filhos, por exemplo. Esse amor, não se aplica diretamente às coisas porque Ágape não tem intenção de possuir e sim de doar incondicionalmente. Mas por isso mesmo é libertador.
Vivido socialmente Ágape nos tiraria da atual condição de seres possuídos pelas coisas e nos permitiria assumir a posse delas, já que o foco passaria a ser as relações com o próximo e não mais o acúmulo de bens. Rasgando o véu da angústia da economia erótica, acessaremos a alegria do encontro com o próximo e com o mundo e, assim, pavimentaremos a presença em nós.