Era uma pequena cidade do interior, cujos habitantes descobriram que tinham o direito a uma verba a título de retorno dos impostos que haviam pago ao longo do ano. Eles não sabiam qual era o valor, como e onde receber. Entenderam então que precisavam de um representante para ir buscar a quantia.
Coronel Justiano Feitor, rico fazendeiro, dono de terras até onde a vista alcança e de metade do comércio da cidade apresentou logo seu filho. Doutor advogado, formado no estrangeiro. Certamente seria a pessoa mais indicada para a missão.
Mas como sempre tem um do contra. Tonho de Joana, vaqueiro sem um pau pra dar num gato, mas com a língua ferina que só açoite de chicote, resolveu também se candidatar para a tarefa. Teve gente que riu, outros nem prestaram atenção, mas por segurança o coronel chamou um cabra de sua confiança para se candidatar também.
— Vôte coroné, e eu vou ser contra o seu menino? De jeito nenhum!
— Largue de besteira, homi. Você vai ser o meu laranja. Só tem que sair por aí dizendo que é candidato porque o Tonho tá é querendo se dar bem. Se precisar invente que ele é metido com roubo. Entendeu?
O cabra tinha entendido e fez conforme as ordens. No final, aconteceu como o Coronel previa. De cada cem, apenas dois eleitores escolheram Tonho. Teve festa da vitória, com direito a churrasco de um novilho. O povo todo contente, voltou pra casa de barriga cheia com a certeza que tinha feito a coisa certa.
— Onde já se viu trabalhador querer ser mais do que doutor. Pensavam.
Na outra semana, Justiniano Júnior, embarcava para a Capital. Dois meses depois voltou com a encomenda, conforme o prometido.
A rádio do coronel já avisou pra todo mundo que o dinheiro tinha chegado. No outro dia, fez fila na porta da Casa Grande. Teve corte de tecido, cesta básica, alpercatas, loção… Ninguém saiu de mãos abanando. Era uma contenteza só.
— Taí, se a gente tivesse escolhido Tonho tinha era perdido isso tudo. Comentou Clewson, exibindo o cinturão de fivela niquelada que havia ganhado das mãos do doutor.
Pouco tempo depois daquele dia, a mercearia Justiniano virou um supermercado, as ruas próximas do comércio receberam calçamento e o povo assistiu a chegada de caminhões carregados de bois Nelore para aumentar o rebanho do patrão.
E assim passaram-se os anos, com todo mundo agradecido à família do Coronel. Até que um dia desses, chegou na cidade essa tal de Internet e Tonho de Joana foi logo aprender a bulir no negócio. Cascavilhou até encontrar de onde vinha o dinheiro e quanto foi enviado para a cidade, através do patrão Júnior. Para surpresa dele, o município tinha direito a mais da metade do que a rádio divulgava.
Desde esse dia, Tonho anda de casa em casa mostrando as provas do roubo. Uma ruma de gente já deixou de falar com ele e não quer nem olhar pra esse negócio que veio de Internet.
Imagina, falar mal de um homem tão bom como o coronel Justiniano!
Outros, continuam achando que ele só quer aparecer e se dar bem. Mas aqui e acolá, aparece um que escuta, analisa e entende que a cidade inteira foi enganada e que o coronel aumentou sua riqueza com o dinheiro do povo.
E o Coronel? Está cada vez mais rico, mas mandou a rádio esculhambar com Tonho todo dia, cortou qualquer ajuda até pra quem falar com ele, mas confessa para os mais íntimos que teme que um dia a população descubra tudo.
— Bom era nos outros tempos. Eu já tinha dado um jeito de calar a boca desse comunista de uma vez por todas! Costuma repetir.
(Leilton Lima)
Era uma pequena cidade do interior, cujos habitantes descobriram que tinham o direito a uma verba a título de retorno dos impostos que haviam pago ao longo do ano. Eles não sabiam qual era o valor, como e onde receber. Entenderam então que precisavam de um representante para ir buscar a quantia.
Coronel Justiano Feitor, rico fazendeiro, dono de terras até onde a vista alcança e de metade do comércio da cidade apresentou logo seu filho. Doutor advogado, formado no estrangeiro. Certamente seria a pessoa mais indicada para a missão.
Mas como sempre tem um do contra. Tonho de Joana, vaqueiro sem um pau pra dar num gato, mas com a língua ferina que só açoite de chicote, resolveu também se candidatar para a tarefa. Teve gente que riu, outros nem prestaram atenção, mas por segurança o coronel chamou um cabra de sua confiança para se candidatar também.
— Vôte coroné, e eu vou ser contra o seu menino? De jeito nenhum!
— Largue de besteira, homi. Você vai ser o meu laranja. Só tem que sair por aí dizendo que é candidato porque o Tonho tá é querendo se dar bem. Se precisar invente que ele é metido com roubo. Entendeu?
O cabra tinha entendido e fez conforme as ordens. No final, aconteceu como o Coronel previa. De cada cem, apenas dois eleitores escolheram Tonho. Teve festa da vitória, com direito a churrasco de um novilho. O povo todo contente, voltou pra casa de barriga cheia com a certeza que tinha feito a coisa certa.
— Onde já se viu trabalhador querer ser mais do que doutor. Pensavam.
Na outra semana, Justiniano Júnior, embarcava para a Capital. Dois meses depois voltou com a encomenda, conforme o prometido.
A rádio do coronel já avisou pra todo mundo que o dinheiro tinha chegado. No outro dia, fez fila na porta da Casa Grande. Teve corte de tecido, cesta básica, alpercatas, loção… Ninguém saiu de mãos abanando. Era uma contenteza só.
— Taí, se a gente tivesse escolhido Tonho tinha era perdido isso tudo. Comentou Clewson, exibindo o cinturão de fivela niquelada que havia ganhado das mãos do doutor.
Pouco tempo depois daquele dia, a mercearia Justiniano virou um supermercado, as ruas próximas do comércio receberam calçamento e o povo assistiu a chegada de caminhões carregados de bois Nelore para aumentar o rebanho do patrão.
E assim passaram-se os anos, com todo mundo agradecido à família do Coronel. Até que um dia desses, chegou na cidade essa tal de Internet e Tonho de Joana foi logo aprender a bulir no negócio. Cascavilhou até encontrar de onde vinha o dinheiro e quanto foi enviado para a cidade, através do patrão Júnior. Para surpresa dele, o município tinha direito a mais da metade do que a rádio divulgava.
Desde esse dia, Tonho anda de casa em casa mostrando as provas do roubo. Uma ruma de gente já deixou de falar com ele e não quer nem olhar pra esse negócio que veio de Internet.
Imagina, falar mal de um homem tão bom como o coronel Justiniano!
Outros, continuam achando que ele só quer aparecer e se dar bem. Mas aqui e acolá, aparece um que escuta, analisa e entende que a cidade inteira foi enganada e que o coronel aumentou sua riqueza com o dinheiro do povo.
E o Coronel? Está cada vez mais rico, mas mandou a rádio esculhambar com Tonho todo dia, cortou qualquer ajuda até pra quem falar com ele, mas confessa para os mais íntimos que teme que um dia a população descubra tudo.
— Bom era nos outros tempos. Eu já tinha dado um jeito de calar a boca desse comunista de uma vez por todas! Costuma repetir.
(Leilton Lima)